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Brasil: fichamentos / clippings / recortes de não-ficção. Nonfiction Litblog. Curador do blog é Especialista em Direito Previdenciário Brasileiro.

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Ciro Gomes: mão-de-obra não-qualificada tornar-se-á imprestável

Ciro Gomes. Projeto Nacional: o Dever da Esperança. Capítulo "Por uma nova esquerda". Seção "Apontamentos para uma nova prática". Subseção "Desenvolvimento para salvar da miséria". Página 240.

No passado, o trabalho barato, não qualiicado e sem direitos serviu à divisão econômica global [...]. Mesmo que estivéssemos em outro ciclo tecnológico, poderíamos esperar chegar lá com um projeto nacional claro.

Mas agora, com a automação generalizada, o Brasil não teria como oferecer nem sequer trabalho escravo como troca econômica. O que faremos quando, mantido nosso povo na ignorância, a mão de obra barata e não qualificada sequer servir para alguma coisa? Como distribuiremos renda mínima se não tivermos renda nacional alguma?

Ciro Gomes: é nacionalista, mas não há nada de errado em sê-lo

Ciro Gomes. Projeto Nacional: o Dever da Esperança. Capítulo "Por uma nova esquerda". Seção "A crise da esquerda contemporânea". Subseção "O abandono do horizonte nacional". Páginas 212-213.

Unimundismo: denúncia do nacionalismo e do Estado-nação. Segundo essa ideia, o nacionalismo é parte da ideologia da classe dominante, meramente um instrumento para justificar que burgueses mandem meninos para a guerra contra outros meninos e assim disputar mercados com outros burgueses. Ele seria um dos fatores de criação da sensação de coesão social e sentimento de unidade que serve para esconder a verdadeira divisão, que não seria entre nações, mas entre classes sociais. Para comunistas, por exemplo, o comunismo deveria ser internacional, assim como a classe trabalhadora seria uma só.

Para a esquerda europeia, a adoção desse discurso fazia todo o sentido histórico. Divididos entre dezenas de nações num espaço geográfico menor do que o território brasileiro, os trabalhadores europeus do início do século XIX eram enviados para matar trabalhadores de países vizinhos a fim de proteger os interesses coloniais dos Estados imperialistas europeus em terras distantes, onde, por sua vez, outros trabalhadores eram explorados até a morte. [...]

Lutar contra o imperialismo então, para o trabalhador europeu, era lutar contra o nacionalismo em sua própria pátria imperialista. E para piorar, esse nacionalismo ainda vinha impregnado de ideias racistas e xenófobas para justificar sua violência e exploração.

Mas nos países periféricos essa situação se inverte totalmente. Lutar contra o imperialismo e a exploração econômica brutal requeria a afirmação da própria identidade nacional, seu direito de se autodeterminar, se industrializar e usufruir da própria riqueza produzida para viver de acordo com sua cultura. A denúncia do Estado-nação importada da Europa se tornava assim mais um instrumento do imperialismo.

🇧🇷🎓 Universidades Federais. Estudantes que não desejam formar-se.

Juciana Anunciação dos Santos de Sousa (UFRB) e Ana Maria Silva Oliveira (UFRB). Parte 2: Práticas de Ensino, Pesquisa, Extensão e Apoio Pedagógico aos Estudantes, capítulo 4: Acompanhamento Pedagógico no Ensino Superior: Perspectivas à Luz do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), seção 3: Ações de Acompanhamento Pedagógico na PROPAAE. Gestão Pública: A Visão dos Técnicos Administrativos em Educação das Universidades Públicas e Institutos Federais, volume 10, 2024.

Muitos estudantes, por medo [...] do que enfrentarão no pós-universidade, acabam prolongando sua estadia na graduação, reprovando em parte das disciplinas ou cursando poucas.

E, assim, saem, muitas das vezes, desprovidos de visão, expectativas, e planos que impliquem uma atuação na sociedade. [...]

Ações voltadas ao preparo do discente quando da saída da universidade [... são] cada vez mais urgentes e necessárias, haja vista a importância do preparo para o enfrentamento em relação ao mercado de trabalho ou para a continuidade dos estudos.

🇧🇷🎓 Universidades Federais. COVID-19: PDI × Politicagem

Lourdes Maria Rodrigues Cavalcanti (UFPB) e Maria das Graças Gonçalves Vieira Guerra (UFPB). Parte 1: Gestão Pública nas Universidades Públicas e Institutos Federais, capítulo 1: Análise do Plano de Desenvolvimento Institucional da Universidade Federal da Paraíba, seção 2: Referencial Teórico. Gestão Pública: A Visão dos Técnicos Administrativos em Educação das Universidades Públicas e Institutos Federais, volume 10, 2024.

O [Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI)] surgiu [...] como instrumento de planejamento institucional na Portaria MEC nº 1.466, de 12 de julho de 2001. [...] As [Instituições Federais de Ensino Superior (IFES)] tiveram que elaborar seus PDIs sem a existência de um modelo adequado. [...] Tal fato resultou em intermináveis discussões e muita resistência, [...] agravando confrontos e disputas político-ideológicas, em detrimento de uma discussão que fosse centrada no aspecto técnico e legal do planejamento institucional.

A pandemia de COVID-19, que assolou o mundo, [...] provocou uma crise inédita o ensino presencial. No Brasil, no que se refere ao ensino superior, [constatou-se] que, apesar da existência de PDI como instrumento de planejamento institucional, em vigor há mais de 10 anos, não se detectou a existência de "um plano de contingência que fosse capaz de lidar com a crise". [...]

Os conflitos foram inevitáveis, e a inércia foi o resultado [...]. A cegueira causada pelas intermináveis discussões ideológicas e pelo negacionismo serviu, a uns e outros, como desculpa para a omissão e para a ausência de propostas de solução viáveis diante da gravidade da situação. Todos perdem [...]. A quem serve tal tipo de coisa?

Notas 🎒 escolares → estímulo à mediocridade

Roberto Rafael Dias da Silva. Livro Customização curricular no ensino médio: elementos para uma crítica pedagógica. Cortez Editora, 1ª edição, 2019. Capítulo 5: "Estetização Pedagógica, Aprendizagens Ativas e Práticas Curriculares no Brasil".

Em seu texto A escola sob medida ([que demarca sua aproximação epistemológica ao movimento escolanovista]), [o psicólogo suiço] Claparède [...] dirige sua atenção para produzir uma crítica da escola de seu tempo, na medida em que a instituição privilegiava o aluno médio, através da atribuição de notas.

Mas, o que é lastimável é o fato de a escola pensar ter realizado tudo, quando atribuiu esta nota, quando estabeleceu tal distinção. Esta determinação é, para ela, um ponto de chegada, quando deveria ser um ponto de partida: os fortes, os medíocres e os fracos não são tratados diferentemente, são obrigados a andar no mesmo ritmo, o que é nocivo a uns e outros. Não parece suspeitar que uma notação é um processo didático (Claparède, 1973, p, 172).

Seria necessário que a escola levasse em conta as diferenças individuais? Mesmo reconhecendo que, historicamente, a escola operava no nível da padronização, o psicólogo seguirá defendendo que se fazia urgente uma superação das pedagogias centradas no aluno médioum tipo monstruoso e antinatural (Claparède, 1973, p. 173). Na lógica da argumentação claparediana, um dos primeiros aspectos a serem reconhecidos seriam as capacidades naturais dos estudantes. Em outras palavras, para produzir uma educação que atenda às variações individuais, era necessário reconhecer que um indivíduo só produz na medida em que se apela para suas capacidades naturais, e que é perder tempo querer por força desenvolver nele capacidades não-possuídas (Claparède, 1973, p. 174). Esse aspecto também indicava uma crítica aos programas escolares uniformes.

Ao postular a centralidade dos interesses individuais dos estudantes e de sua variedade de aptidões, Claparède passa a defender a constituição de uma escola sob medida. Isso poderia ser desenvolvido através de classes paralelas, classes móveis e, principalmente, o sistema de opções, no qual a maior parte [do tempo] era deixada às ocupações individuais de cada aluno (Claparède, 1973, p. 178). Exemplar, nessa direção, seria a discussão sobre os critérios para a organização das turmas baseados na diferenciação.

Parece-me, além disto, que a criação de classes fortes e fracas não poderia resolver de modo satisfatório o grave problema das aptidões. O que importa, com efeito, não é tanto diferenciar as crianças conforme o vulto de sua capacidade de trabalho, senão conforme a variedade de suas aptidões. Tal classificação quantitativa, seria preciso substituí-la por uma classificação qualitativa. A escola atual sempre quer hierarquizar; antes de mais nada, o importante é diferenciar. Esta ideia fixa de hierarquia vem do emprego dos diversos sistemas empregados para aguilhoar os alunos: boas notas ou más, filas, castigos, concursos, prêmios... (Claparède, 1973, p. 181-182. Grifos do autor)

Referência

  • CLAPARÈDE, Edouard. A escola sob medida. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1973.

🗳️ Urnas eletrônicas ∧ 🇧🇷 TRE-RJ: 🚔 fraude eleitoral antes e depois delas

Professor David Ferge Fleischer: PhD em Ciência Política pela Universidade da Flórida; Coordenador do Mestrado em Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB). Voto Eletrônico: é mais seguro votar assim?, Mônica Corrêa da Silva. Editora Insular, 2002.

Antes das urnas eletrônicas

No Estado do Rio de Janeiro (Déja Vu "Caso Procunsult"*), as fraudes na apuração a eleição proporcional em 1994 foram tão grandes que esta eleição foi anulada e realizada novamente junto com o 2º turno para governador. Apesar de a Polícia Federal e as Forças Armadas terem sido convocadas para ajudar na fiscalização, até hoje [2002] pairam dúvidas sobre a veracidade dos resultados para deputado federal e estadual naquele pleito. Uma conspiração bem organizada havia comprado os digitadores para alterar os resultados na preparação dos boletins de urna e nas totalizações -- trocando as votações entre candidatos da mesma legenda, cuja fraude ficou muito difícil de ser flagrada pelas rotinas de consistência no sistema de totalização operado pelos computadores da Justiça Eleitoral.

Naquele pleito de 1994, os resultados de cada urna, devidamente digitalizados, foram transmitidos para cada TRE via modem, sem nenhuma segurança de criptografia, ficando assim muito vulneráveis à violação por hackers ou fraudadores.

* O "Caso Proconsult", como ficou conhecido, diz respeito a uma fraude ocorrida nas eleições para o governo do Estado do Rio de Janeiro, em 1982. O TRE local, na época, decidiu informatizar a etapa da totalização dos votos e, para tanto, contratou a empresa Proconsult. Ao final da eleição, a Justiça Eleitoral anunciou Moreira Franco como o candidato vitorioso, mas uma apuração paralela informal, baseada em mapas produzidos manualmente pelas juntas de apuração de cada zona eleitoral divulgados pelo próprio TRE, contrariou o resultado, dando a vitória para Leonel Brizola -- o que mais tarde foi confirmado.

Depois das urnas eletrônicas

Supostamente, as urnas eletrônicas eliminam a possibilidade de tutela do voto do eleitor mais humilde pelos caciques e seus cabos eleitorais, pois não têm como comprovar o voto para que o eleitor possa receber o seu "agrado" posteriormente. Porém, a Justiça Eleitoral tomou conhecimento da "criatividade" de alguns candidatos a prefeito na "verificação" do voto dos "seus" eleitores. Na saída da votação, o cabo eleitoral perguntava: Você votou no Dr. Fulano?. E o eleitor respondia: Sim Senhor, votei nele. Ainda, o cabo perguntava: E você notou algo diferente quando o retrato do Dr. Fulano apareceu na tela?. O eleitor mais "observador" respondia: De fato, ele estava sem bigode; eu nunca vi ele sem bigode, ou Ele estava com uma gravata borboleta ridícula, ou Ele estava com uma camisa havaiana muio feia. Respondendo a "senha" corretamente, o eleitor recebia a sua "recompensa" por ter votado "certo". O eleitor "distraído" ou sem atenção que não conseguiu lembrar a "senha", não recebia o "agrado".

📚 Livros: onde doar em 🇧🇷 São João del Rei

Na rodoviária de São João del Rei existe uma Estante de Doação de Livros e Revistas onde qualquer pessoa pode doar e/ou coletar quaisquer materiais impressos. As doações podem ser feitas de qualquer parte do Brasil via Correios, usando o endereço abaixo:

Estante de Doaçao de Livros - HQVGA.jpg

A Quem Interessar Possa
Estante de Doações de Livros e Revistas
Encostada em um dos 8 pilares revestidos de mármore branco
Defronte ao Mapa Oficial de São João del Rei, dos caixas eletrônicos, do elevador, e do telefone público
Na direção do Portão de Desembarque
Interior do Térreo
Terminal Rodoviário de São João del Rei
Rua Coronel Antônio Maria Clarete da Silva, 337
Fábricas
São João del Rei – MG
36 301-204

A modalidade mais barata para enviar livros, revistas, artigos (sem poder incluir nada que não seja papel impresso) é: Impresso Nacional com Registro Módico. O Registro é necessário para confirmar se o pacote de fato foi entregue ou não, pois extravios não são raros, e só é possível comprová-los e receber o reembolso das tarifas postais mediante Registro. Adicionalmente, é interessante optar pelo Valor Declarado, que é um seguro onde você declara o valor dos livros/revistas/artigos para, no caso de extravio, receber não só ressarcimento das tarifas postais, mas também dos livros/revistas/artigos postados.

Uma ideia interessante que recomendo é colocar, no endereço de remetente, não o endereço da sua casa/trabalho, mas sim de outro local de doação. Assim, caso os Correios não consigam, por alguma razão, entregar o pacote nessa Estante em São João del Rei, ao invés de você recebê-lo de volta, automaticamente será enviado para outro lugar que aceita doações. Por exemplo, a Casa da Leitura em Juiz de Fora.

Referência:

  • Vertentes Agência de Notícias (UFSJ): Um projeto para todos os leitores (18/06/2017). Uma vez por semana, ele completa uma estante de livros na rodoviária da cidade, onde as pessoas podem tanto pegar para si como doar. (grifo meu)

🇧🇷🧓 Previdência de 'Funcionário MEI' ≈ 💣 bomba relógio / Você RH

Paula Simões. No Mesmo Barco? Contratos intermitentes e de prestação de serviço são tendências para o futuro. Além de atentar para regras trabalhistas, as empresas precisam conquistar o engajamento desses profissionais e evitar a precarização. Você RH, edição 73, de abr/mai 2021. Editora Abril.
As armadilhas do PJ

Tendência que já acontecia em diversos setores, mas que encontrou alguns aspectos de legalidade na reforma trabalhista de 2017, foi a contratação de pessoas jurídicas para as atividades-fim das empresas. Isso significa que, ao invés de contratar alguém como pessoa física e pagar por seus direitos trabalhistas, essa relação passa a ser intermediada como um pacto comercial entre duas empresas. [...] Há no mercado muitos PJs que atuam para apenas uma empresa, como se fossem funcionários, mas sem os direitos que os contratos de pessoa física garantem.

No caso do MEI, ele contribui com uma parcela menor do que deveria. E o empregador não contribui. Isso é um curativo para uma situação que é muito mais grave. Todos nós vamos ter que pagar por isso, ou o déficit público aumentará. [...] No longo prazo, estamos comprando uma bomba-relógio, pois as pessoas que cumprem essas atividades vão se aposentar um dia, recebendo um salário mínimo, mas tendo contribuído muito pouco para o INSS.
Leonardo Trevisa, professor do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
Uma coisa é a metamorfose muito evidente nos formatos das relações de trabalho, outra é entender que isso não precisa significar perda de direitos nem levar para essa filosofia de empreendedorismo que, na verdade, é uma precarização. Não é empreendedor quem basicamente coloca sua força de trabalho a serviço do outro.
Guilherme [Guimarães Feliciano, professor associado do Departamento de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito da USP, e juiz do trabalho no TRT da 15ª Região].

💼💵 "Salário a Combinar": (des)vantagens / Você RH

Bárbara Nor. Salário a combinar: muitas empresas não abrem os valores salariais durante o processo seletivo; embora seja uma prática padrão, isso pode prejudicar a imagem da companhia, além de deixar o recrutamento mais caro e lento. Você RH nº 74, de junho/julho de 2021. Editora Abril.

Razões

Em abril, das 50.019 vagas anunciadas na plataforma InfoJobs, por exemplo, 42% vieram com a frase “salário a combinar”. O restante, 58%, dividia-se entre vagas com salário ou com faixa salarial. Segundo Nathália Paes, responsável pelo desenvolvimento de negócios do InfoJobs, a maioria das oportunidades que abrem informação salarial costuma ser para níveis mais baixos, como júnior e pleno. “Ocultar o salário ainda é prática recorrente em grande parte das empresas, especialmente para cargos mais altos”, afirma.

O que parece estar por trás disso é o medo [...] de atrair candidatos puramente interessados no salário, e não na vaga em si. A ideia é que não declarar o valor pode chamar pessoas mais motivadas por outros fatores que não o financeiro, como cultura e propósito. É por isso que Maria Sartori, diretora de recrutamento da Robert Half, consultoria especializada em recrutamento e seleção, costuma recomendar aos clientes que não abram nem mesmo a faixa salarial. Ainda que essa seja, de fato, a questão que Maria Sartori mais ouve dos candidatos. “Divulgar essa informação pode desestimular o profissional a seguir no processo, mesmo antes de conhecer a vaga”, diz. “E, no final, é possível que ajustemos o valor de acordo com quem escolhemos”.

Contraponto

As empresas podem sair perdendo com a prática para além da insatisfação dos potenciais candidatos. “Ocultar o valor tem muitas consequências, até financeiras, para o RH”, diz Nathália Paes, do InfoJobs. O principal motivo é que isso tornaria os processos seletivos mais ineficientes: não abrir o salário costuma atrair muito mais candidatos para a vaga, segundo ela. “Mas isso não significa que eu tenha candidatos aderentes — quantidade não é qualidade” [...] “Isso custa dinheiro e tempo do RH.”

🧠 Depressão ∨ ansiedade: causas internas ∨ externas / Fiocruz

Fernando Tenório, psiquiatra e escritor. Meu paciente favorito. Pós-Tudo. RADIS nº 204, de setembro de 2019. Fundação Fiocruz.

Cada médico tem seu paciente favorito. Negar isso é mentir para si próprio. Admito que o meu paciente favorito é um homem entre 50 e 60 anos com um humor ácido. Ele vem ao meu consultório há dois anos, mas nunca topou tomar medicação. Na primeira vez, após uma longa conversa, fiz essa proposta e quase apanhei. O homem saiu valente e prometeu nunca mais voltar.

No mês seguinte lá estava ele uma hora antes do combinado na recepção. E assim foi até bem pouco tempo, pois meu paciente favorito nunca confirmava sua ida, dizendo que não via necessidade em ir, mas estava presente uma hora antes do horário combinado no dia marcado. Eu passei a escutá-lo mais e vez por outra falava tangenciando sobre uma medicação quando o seu discurso autorizava, porém era repelido imediatamente.

Quando eu lhe perguntava como estava a vida, ele me respondia: Tão bagunçada quanto o seu cabelo. Quando a arguição partia para sua vida sentimental, ele me respondia: O senhor tem partes com cartomantes e apresentadores de programas que gostam de juntar casais. Eu aceitava esse humor cítrico de bom grado e vez por outra retrucava na mesma moeda.

Seguimos então até o mês de maio, quando ele adentrou minha sala com barba por fazer, cara de quem não dormia há várias noites e me intimou: Me dá a merda do teu remédio que eu não vou bem. Depois de dois anos, ele decidiu que aquele era o seu momento. Perguntei a ele o que seria não estar bem. A resposta veio na lata: Quem não está bem só pode estar mal. Coloca um remédio logo antes que eu me arrependa. Depois dessas respostas atravessadas o homem falava sobre seu emprego sem estabilidade, das contas que não param de subir, dos dilemas com uma filha mais nova e sua desesperança em relação ao futuro.

Ontem o camarada voltou e eu questionei se ele havia melhorado. A resposta foi sumária: Eu continuo me lascando, só que agora sem chorar.

Fiquei tonto com a resposta.

  • É possível tratar uma doença que se manifesta num sujeito, mas que surge pelas condições socioculturais que o circundam?
  • Até que ponto os quadros depressivos e ansiosos são doenças propriamente ditas?
  • Seriam eles manifestações individuais de uma crise sistêmica e estrutural da maneira como vivemos e nos relacionamos?

[...]

Tenho repensado muito a minha prática a partir dessas reflexões. Caso não faça isso, virarei um simples prescritor. Quiçá um traficante de drogas legais. Ser médico vai além de saber medicar. Ontem, quando meu paciente saiu, eu falei que havia aprendido muito com a sinceridade dele. A sua resposta foi assim: Então na próxima o senhor me paga a consulta ao invés de eu te pagar. Ando com umas contas atrasadas e vai ser de grande valia. Sorrimos juntos e eu pude perceber que não foi o remédio o responsável por isso.

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